Newsletter – Ano I – Número II – Artigo 2 – agosto/2022
Conheça os primeiros resultados sobre a tolerância de porta-enxertos de citros ao HLB
A equipe do Centro de Ciência para o Desenvolvimento (CCD-CROP-IAC) tem os primeiros resultados do projeto “Estratégias biotecnológicas e genômicas para qualidade, produtividade e manejo sustentável de citros, café e cana-de-açúcar no estado de São Paulo” quanto à tolerância dos porta-enxertos citrandarins (híbridos de Citrus sunki x Poncirus trifoliata) à doença huanglongbing (HLB) ou greening dos citros. Esse estudo abre perspectivas para novas pesquisas visando o manejo do HLB utilizando combinações de copa/porta-enxertos com maior resiliência aos efeitos deletérios da doença ao sistema radicular das plantas.
A tolerância de genótipos de citrandarins à bactéria Candidatus Liberibacter asiaticus (CLas), agente causal do HLB nos citros, foi estudada pela mestre Thaís Magni Cavichioli, com auxílio bolsa Fapesp (2019/06412-5), sob orientação do pesquisador do Instituto Agronômico (IAC), Helvécio D. Coletta-Filho. A pesquisa foi conduzida no curso de pós-graduacão em Genética e Melhoramento de Plantas da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho (UNESP–Jaboticabal). A dissertação foi defendida em dezembro de 2021.
“No estudo, 14 genótipos de citrandarins foram desafiados sob contínua exposição à bactéria do HLB, sobre-enxertando-os em copa de plantas de laranjeira ‘Valência’ com alto título da bactéria do HLB (Figura 1). Após 360 dias de infecção, em quatro genótipos desses híbridos houve redução entre 50 a 83% no número de plantas infectadas pela bactéria do HLB, chegando à ausência de diagnóstico positivo em todas as repetições analisadas para o citrandarin H106, como determinado por PCR quantitativo em tempo real (qPCR)”, explica Coletta-Filho. Além disso, foram observadas naquele híbrido baixas concentrações de amido (17 mg/g de tecido) e menor formação de calose (8 unidades de fluorescência/mm2), que são indicativos de severidade da doença.
Figura 1. Ilustração do experimento de sobre-enxertia de genótipos de citrandarins para desafios à infecção por Ca. Liberibacter asiaticus. A. Plantas de “Valência” como fonte de CLas que receberam as sobre-enxertias de citrandarins. B. Câmara úmida utilizada para pegamento da sobre-enxertia na forma de garfagem. C. Visão geral do experimento.
Num outro experimento o genótipo de citrandarin (H222), pré selecionado quanto a tolerância ao HLB, foi usado como porta-enxerto e interenxerto para a laranjeira ‘Valência’ infectada com a bactéria do HLB. Segundo o pesquisador, também foram definidos os parâmetros de concentração da bactéria na copa e na raiz, ambos determinados por qPCR, volume, peso seco e úmido do sistema radicular das plantas infectadas e não infectadas com CLas.
“Os resultados mostraram que os interenxertos com o genótipo H222 entre a copa de Valência e o citrumelo Swingle como porta-enxerto não trouxeram ganhos ao sistema radicular das plantas. No entanto, o citrandarin H222 com porta-enxerto apresentou ausência de infecção a bactéria do HLB em seu sistema radicular em três das quatro repetições”, comenta.
Como consequência, as raízes do porta-enxerto citrandarin H222, mesmo tendo a variedade Valência como copa infectada com a bactéria do HLB, apresentaram, em média, ganhos de 25% nos índices de desenvolvimento analisados quando comparado à combinação Valência/citrumelo Swingle, também infectada com HLB (Figura 2A).
A pesquisa revela que esse menor impacto do HLB no sistema radicular do citrandarin H222, em uma análise envolvendo todos os parâmetros, permitiu comparar os resultados desse híbrido aos obtidos de plantas não inoculadas (Figura 2B). “Porém, ressalta-se que a doença HLB afetou o desenvolvimento do sistema radicular dos porta-enxertos, independentemente da variedade, chegando a índices de até 70% como o ocorrido para o citrumelo Swingle”, destaca o orientador.
Figura 2. Resposta do híbrido H222 como inter-enxerto e porta-enxerto a infeção por Ca. Liberibacter asiaticus – CLas. A. Aspecto do volume do sistema radicular dos tratamentos onde a copa Valência apresentava alta concentração de CLas. B. Análise de clusterização das variáveis analisadas (diâmetro do colo da haste principal, volume e peso seco do sistema radicular e valores de CT (cycle threshold) em respostas dos tratamentos T1, T2, T3 e T4 à infecção por CLas quando comparados aos tratamentos não infectados.